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Na quarta-feira (21), o Partido dos Trabalhadores (PT) indeferiu a candidatura da turismóloga Dani Nunes à presidência nacional da legenda. Mulher trans, negra e moradora da zona oeste do Rio de Janeiro, Dani acusa o partido de praticar “violência política de gênero e de raça”. A decisão, tomada pela comissão organizadora do Processo de Eleição Direta (PED) 2025, gerou controvérsia e reacendeu o debate sobre inclusão e representatividade na política partidária.
O veto à candidatura ocorreu devido à retirada de uma das cinco assinaturas de membros do Diretório Nacional necessárias para o registro da chapa, após o prazo oficial. A comissão considerou a retirada válida, invalidando a candidatura. Dani, que havia cumprido formalmente os requisitos, recorreu da decisão, argumentando que o estatuto do PT não prevê a retirada de apoios após o prazo, que a medida desrespeita o princípio da boa-fé e que ignora as bases sociais que o partido afirma representar.
“Fui surpreendida depois de vibrar de alegria. Meu chão ruiu”, desabafou Dani, integrante da corrente interna Raízes do PT. “Não esperava que a atitude individual de uma pessoa poderia comprometer todo um histórico de luta tanto meu, enquanto mulher trans negra, quanto do partido que leva o nome da classe que faz este país acontecer: trabalhadoras e trabalhadores.”
A pré-candidata, que seria a primeira mulher trans negra a concorrer ao comando nacional do PT, comparou sua experiência a um episódio recente envolvendo a ministra do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Vera Lúcia, impedida de acessar um evento da Presidência da República no qual seria palestrante, por servidores que duvidaram de sua condição de magistrada. O caso foi classificado como “racismo” pela ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia. “Me vi igual a ela no plenário, triste e com o olhar longe”, relatou Dani. “Tive a sorte de contar com negros, indígenas, LGBTQIAs e antirracistas que me apoiaram.”
A corrente Raízes do PT, à qual Dani pertence, publicou uma nota na sexta-feira (23) classificando a decisão como “arbitrária e injusta” e reforçando a acusação de “violência política de gênero e de raça”. O grupo também criticou a continuidade da eleição com “quatro homens brancos na disputa” — Edinho Silva, Valter Pomar, Romênio Pereira e Rui Falcão —, marcada para 6 de julho.
Em nota oficial, o PT justificou que Dani Nunes “não cumpriu as regras estabelecidas no Regulamento do Processo de Eleição Direta (PED) 2025 no que diz respeito a apoios”. A decisão final sobre o recurso será julgada pelas instâncias internas do partido, em um processo que pode impactar a imagem da legenda às vésperas das eleições municipais.
O caso expõe tensões internas no PT e levanta questionamentos sobre o compromisso do partido com a diversidade. Dani afirma que a legenda “reproduz estruturas excludentes”, enquanto apoiadores cobram maior representatividade nas instâncias de poder. O desfecho do recurso será acompanhado de perto por movimentos sociais e pela base do partido.
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